O rapper esteiense Rafa Rafuagi participou, nesta segunda-feira, dia 28 de julho, do programa Sem Censura, da TV Brasil, com a apresentação de Cissa Guimarães. O promotor da cultura Hip Hop dividiu o programa com a Presidente da Petrobrás Magda Chambriard, com a atriz gaúcha Mel Lisboa e com a participação da debatedora Dadá Coelho. Rafa ficou com o último bloco do programa e iniciou sua participação com uma homenagem ao Emicida e ao Evandro Fioti pela “passagem” da dona Jacira, que faleceu aos 60 anos. A primeira música apresentada pelo rapper foi Resta 1, com letra de Rafa, Rick e Emicida (Vale assistir o clip). A canção se enche de sentidos com homenagem de Rafa, em que no vídeo original inicia com sua mãe, Odete Diogo, que fala sobre resistência negra.

Cissa Guimarães, ao final da primeira apresentação estendeu a homenagem do rapper gaúcho ao falecimento da mãe do Emicida, dona Jacira, em nome de todos os participantes do programa. Após a homenagem de Cissa à dona Jacira, a apresentadora descreve Rafa como um artista maravilhoso que transforma microfone em ferramenta de ação social. Rafa, que iniciou com 13 anos na cidade de Esteio, se tornou um dos rappers e produtor cultural mais importantes do Brasil. Em seu relato, Rafa explica que foi por meio de um professor de história que conheceu o hip hop, quando em um exercício de aula se utilizou um rádio e um toca fitas que acabaram mudando a história do hip hop na América Latina.

Do hip hop à transformação social
Cissa perguntou a origem do nome Rafuagi. “Ra de Rafael, Fu de fusão, A de amigo e Gi de Gilmar, Rafuagi veio daí”, explicou o Rapper. Rafa logo a seguir foi interrogado sobre os motivos de trabalhar o hip hop como um instrumento político. O rapper respondeu dizendo que essas motivações políticas emergem do próprio hip hop, no caso do rapper, que lhe ofertou uma trajetória de letramento racial e consciência de classe. “Nosso letramento não vem dos livros, vem da música”, disse Jeferson Tenório no mesmo programa. Veja aqui (1:18:19 até 1:56:59).

Rafa reafirma que o hip hop pode ser muito mais impactante que a própria literatura, se considerarmos o ponto de vista apresentado por Tenório, argumenta o rapper. Na sequência da entrevista o rapper habilmente encontra um caminho para explicar suas perspectivas, que poderiam ser adjetivadas a partir de seu livro, que traz em seu título a melhor síntese: Dos princípios à Prática. “Poderia citar muitos grupos que iluminaram o caminho, foram lâmpadas para os pés”, disse Rafa sobre os artistas do Hip Hop. Nesse sentido, o rapper enfrentava as realidades vividas nas letras como princípios que mereciam atenção para transformar em práticas. “Se a letra diz que tem que ter projeto na quebrada, então é lá na quebrada que a gente faz o projeto; se tem que ter educação no contraturno, então criamos programas para dar educação no contraturno escolar; se tem que ter ação de assistência social junto ao hip hop, então ouvimos e criamos as ações de assistência social e assim por diante”, explicou Rafa. Diante da explicação, Cissa perguntou a Rafa os motivos disso? O rapper disse sempre esperar que as coisas fossem feitas, mas ninguém fazia. “Eu esperava que a prefeitura da minha cidade criasse uma casa do Hip Hop, mas foi por meio da Associação da Cultura do Hip Hop que foi possível criar a Casa, que se constituiu como uma importante estrutura cultural no RS. Rafa é autor de 15 grandes projetos, mas destacou o Museu do Hip Hop pela presença da presidenta da Petrobras, Magda, que foi a primeira patrocinadora do projeto. Cissa se interessou muito pela história do Museu do Hip Hop, momento em que Rafa quebra o protocolo da entrevista e distribui camisetas do museu aos participantes. O gesto foi um sucesso e rendeu a melhor propaganda possível ao Museu do Hip Hop. Ao explicar as perspectivas funcionais do Museu do Hip Hop, apresentou reconhecendo a importância do financiamento da Petrobras. Rafa destacou a excelência na gestão do equipamento, que é feita de forma compartilhada com os movimentos.
O protagonismo de Odete Diogo
Cissa pediu para Rafa falar da mãe dele, dona Maria Odete Diogo, líder do movimento negro no RS. O rapper reconhece que o Grupo Unir Raças, liderado por Odete, foi fundamental em sua formação. “Eu vi as lideranças do movimento negro projetando o futuro em reuniões que aconteciam na minha casa”, explicou Rafa. (Conheça aqui mais sobre Odete Diogo)

Programa de entrevistas teoria e prática
Indagado por Cissa, Rafa falou sobre o programa de entrevistas “Teoria e Prática” que acabou se transformando em um livro. O rapper diz que a publicação é um esforço para pode compartilhar todas as suas metodologias de trabalho. A ideia, segundo o escritor, foi facilitar a partir de uma linguagem popular o acesso ao conhecimento para quem tem vontade de fazer, mas não sabe por onde começar, o livro se propõe a contribuir nesse início de trabalho. “O livro acabou virando um manual de líderes que querem realizar programas em seus territórios”, concluiu Rafa.

Partiu aula e o enfrentamento a violência
Rafa é condecorado com dezenas de prêmios, entre eles o Prêmio Innovare, que reconhece projetos que contribuem com inovações para a justiça brasileira. O projeto premiado foi Partiu Aula na Justiça, que foi desenvolvido para enfrentar a reincidência no crime por parte de jovens envolvidos no tráfico de drogas. A proposta pactuada com o Ministério Público do Trabalho, Ministério Público do RS, Tribunal de Justiça voltado a réus primários envolvidos no tráfico de drogas. Em cinco encontros, o participante do programa teria uma chance de mudar de vida. O programa atingiu a maior taxa do Brasil de não reincidência com 86%, utilizando como instrumento a cultura hip hop.

Série documental Faça Você
A apresentadora indagou o rapper sobre a série documental Faça Você. Rafa resumiu o trabalho revelando que a série é a versão audiovisual do livro Dos Princípios à Prática. Com imagens da Casa da Cultura do Hip Hop de Esteio, Rafa se utilizou do audiovisual para compartilhar as experiências de como foram realizados os projetos, programas e serviços com o objetivo de compartilhar experiências e potencializar a ação social pela cultura do hip hop.

Presidente Lula e os 50 anos do hip hop
O rapper destacou a importância do presidente Lula ter reconhecido o hip hop em seus 50 anos, que deu vantagem ao Brasil avançar em relação a organização do hip hop nos Estados Unidos, com a criação do Museu do Hip Hop, em Porto Alegre, sendo o maior da America Latina. A estrutura criada em torno do Museu do Hip Hop mobiliza a geração de trabalho e renda para milhares de profissionais da cultura.

Cissa insistiu para que Rafa falasse mais das entrevistas quando o rapper revelou sua prática pedagógica que chamou de resumo em reppe. Logo a apresentadora desafiou o rapper a fazer um resumo em rima ao final da entrevista, que fez de forma brilhante ao vivo. O programa foi encerrado com o rapper cantando “Se o Tempo Permitir”.
Texto: Charles Scholl – euamoesteio.com.br